Primeira mulher a comandar a pasta, ex-atleta pretende revolucionar acesso ao esporte no Brasil e atuar em todas as dimensões
postado em 05/01/2023 03:55
A solenidade de posse da ministra do Esporte, Ana Moser, marcou ontem o retorno do tema ao primeiro escalão do governo federal. Medalhista olímpica e ex-atleta do vôlei, Moser assumiu a pasta prometendo uma revolução no acesso ao esporte para toda a população, bem como o fomento às atividades amadoras. Em seu discurso, a nova ministra — primeira mulher na cadeira — homenageou ainda grandes atletas brasileiros, especialmente Pelé.
Moser emocionou-se ao iniciar sua fala, e comparou o novo desafio com a maior rivalidade da sua época na seleção brasileira de vôlei. “Acho mais difícil a missão aqui do que Brasil e Cuba, né? Eu chorava menos, durante o jogo”, brincou. O Ministério do Esporte perdeu seu status e tornou-se uma secretaria vinculada ao Ministério da Cidadania na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. A retomada da pasta foi uma das promessas de campanha de Lula.
Ao assumir o cargo, a ministra prometeu atuar em todas as dimensões do esporte. “Para que a gente possa, enfim, ter um espírito de muita conversa, contribuição e colaboração. Para que a gente efetivamente construa algo novo, maior do que a gente tem hoje”, afirmou Moser. Estavam presentes na solenidade parlamentares, líderes de organizações esportivas e outros ministros do novo governo, como a da Saúde, Nísia Trindade, a da Igualdade Racial, Anielle Franco, o da Educação, Camilo Santana, e a dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Aos pares, Moser disse que as pastas trabalharão em conjunto. “O nosso público é o mesmo”.
Como exemplo, a nova ministra citou a interação entre o esporte e a saúde. A ex-atleta lembrou que o Brasil é um dos países mais sedentários do mundo, com 30,1% da população praticando a quantidade recomendada de atividade física. O dado é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e foi divulgado em 2019. “Esses índices pioraram com a pandemia da covid, de uma maneira muito desigual. Se por um lado pessoas como eu tivemos mais tempo no confinamento para fazer atividade física, outras pessoas não tiveram condições e aumentou a inatividade física”, discursou.
Escolas “Rei Pelé”
Pelé, considerado o maior jogador de futebol de todos os tempos, foi homenageado por Ana Moser ao assumir o Ministério do Esporte (leia mais na página 19). “Já deram nome para avenida, para estádio. Eu acho que deveria se dar o nome do Rei Pelé para muitas escolas. Porque os alunos dessas escolas, ao terem o nome do Rei Pelé na sua escola, vão aprender a história do Pelé, que é a história do esporte brasileiro, muito da história do Brasil, e precisa ser mantida”, declarou a ministra.
Questionada em coletiva de imprensa sobre a falta de atletas no velório de Pelé, ela destacou que não sabe os motivos para a ausência e, portanto, não pode fazer um julgamento de valor. “Mas a gente sabe que o esporte é um meio que não é muito politizado, não é muito participativo da vida da sociedade. Esse é um anseio que a gente tem. Acho que, se esses valores fossem mais fortes, a gente teria esses atletas lá presentes”, respondeu.
Além de Pelé, Moser também homenageou a ex-jogadora de vôlei Isabel Salgado, que morreu em novembro, e o ex-jogador de futebol Sócrates. Assim como a ministra, Isabel Salgado foi escalada para integrar o grupo de trabalho de Esporte do governo de transição.
Ela também indicou quais serão as medidas tomadas pela pasta já no início do ano e anunciou alguns membros do segundo escalão. A campeã mundial de basquete Marta Sobral ocupará a Secretaria Nacional de Alto Desempenho, voltada aos atletas profissionais. O ex-atleta de Taekwondo Diogo Silva também fará parte da pasta, mas ainda não há cargo definido. Já a Secretaria Nacional do Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor será chefiada pelo ex-secretário de Esporte e Lazer de Mauá (SP), José Luiz Ferrarezi.
“No caso do futebol, o foco que teremos é na relação das torcidas organizadas com a nossa proposta do esporte como direito de todos. As torcidas organizadas mostraram grande mobilização social em vários momentos nos últimos anos. E avaliamos como muito positiva a humanização e a ampliação dessas relações”, declarou Moser. As agremiações tomaram papel de destaque ao romper bloqueios bolsonaristas nas rodovias após o segundo turno das eleições.
A ex-atleta também anunciou políticas nos moldes do Plano Nacional do Esporte, para aumentar o acesso da população ao esporte amador e fomentar ações que incentivem a atividade física. “Nossa proposta é conquistar, aos poucos, todo o território nacional, e organizar redes de desenvolvimento local do esporte, distribuídas por todas as regiões do país. A nossa proposta é organizar essas redes nacionais a partir de centros de rede, que são instituições como os Centros de Administração Esportiva, que foram construídos às centenas nos últimos anos, e que têm algumas dezenas em funcionamento”, completou Ana Moser.