Ana Moser e sua equipe têm condições de oferecer ao esporte uma estrutura compatível com sua importância nos campos sociais e da saúde, o que quase nunca foi o forte de governos passados
postado em 16/01/2023 06:00
(Crédito: Evaristo Sa/AFP)
O novo governo acena com mais chance de sucesso no cenário do esporte, em relação ao anterior. Longe de ser uma política de carreira, a nova ministra Ana Moser conhece o dia a dia e os bastidores do setor, pois atuou como atleta profissional de vôlei durante 15 anos. Gestão também não é novidade para a ex-atacante da Seleção Brasileira e integrante da equipe que conquistou a primeira medalha olímpica do vôlei feminino nacional. Em 2001, ela fundou o Instituto Esporte e Educação (IEE), do qual é presidente há 20 anos, com o objetivo de “desenvolver e disseminar a metodologia do esporte educacional e ampliar e qualificar a prática de educação física e esporte em todo o Brasil”.
Apesar da qualificação dentro e fora das quadras, os desafios do novo governo no segmento são incontáveis. Faltam, principalmente, investimentos na infraestrutura de base, responsável pela formação de atletas amadores e de alto rendimento. É preciso ainda, de forma efetiva e não só no discurso, democratizar o acesso à prática esportiva e ao esporte amador, notadamente nas escolas públicas, muitas delas sucateadas a olhos vistos, com quadras mal equipadas e em estado lamentável de conservação, fora outros tantos gargalos. A nova ministra já apontou que a principal secretaria será a de Esporte Amador, Educação, Lazer e Inclusão Social. Na avaliação de Ana Moser, são essas as mais importantes frentes para ampliar o acesso à prática.
O Ministério do Esporte terá um orçamento generoso, pelo menos em relação ao governo anterior, e deverá ser cobrado por isso. No fim do ano passado, o Congresso Nacional aprovou a destinação de R$ 1,9 bilhão para a pasta em 2023. Como comparação, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro havia proposto, em igual período, R$ 193,8 milhões — ou seja, 10% do valor autorizado — para a então Secretaria Especial do Esporte, vinculada ao Ministério da Cidadania.
Apesar do considerável aumento nos valores, Ana Moser deixou claro que o Esporte segue com um dos menores orçamentos governamentais, o que não quer dizer que o governo esteja impossibilitado de criar ou fomentar projetos de longo prazo, por exemplo, no fortalecimento de clubes, infraestrutura esportiva, salários em dia. “A gente tem que buscar onde está o orçamento da criança, do adulto, do idoso, porque esse indivíduo tem direito ao esporte. O desafio é fazer esse desenho estratégico para que tenham acesso ao esporte. O dinheiro está aí e nós vamos atrás”, prometeu.
Ana Moser e sua equipe têm condições de oferecer ao esporte uma estrutura compatível com sua importância nos campos sociais e da saúde, o que quase nunca foi o forte de governos passados. O país teve um Ministério do Esporte — que pressupõe mais verba e estrutura eficiente — pela primeira vez apenas em 1995, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
Três anos depois, porém, ocorreu uma fusão da pasta com o turismo. Em 2003, com Luiz Inácio Lula da Silva, a área reconquistou a condição de pasta independente, o que voltou a ser realidade agora. Resta saber se, além de medalhas olímpicas, o país vai conseguir deixar um legado esportivo mais consistente e promissor.