Dono do oratório do casarão em Ouro Preto onde imagem estava explicou que posição inusitada não teve a ver com ‘castigo’ por decepção política ou amorosa
postado em 23/01/2023
Ouro Preto – A esquina das ruas Bernardo Vasconcelos e dos Paulistas, no Bairro Antônio Dias, em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, tornou-se, ao longo do tempo, um ponto de parada obrigatória para moradores e visitantes. Enquanto os primeiros, a qualquer momento, olham para o alto e fazem uma oração e se benzem, os demais admiram, no topo da uma residência, o oratório envidraçado dedicado a Nossa Senhora do Bonsucesso.
Nos últimos dias, no entanto, o ponto turístico e devocional, localizado a poucos metros da Matriz Nossa Senhora da Conceição, esteve envolto em polêmica: a imagem no oratório particular ficou de cabeça para baixo – e muitos creditaram a uma frustração política diante do resultado da eleição presidencial.
Na manhã desse domingo (22), a questão foi esclarecida pelo professor de artes, segurança do trabalho e desenho de joias, Frederico Lamounier Ferrari, de 63 anos, viúvo, um dos proprietários do casarão no qual reside com a mãe, Afonsina Lamounier Ferrari, de 95.
Segundo ele, a imagem de Nossa Senhora do Rosário ficou de cabeça para baixo devido à descupinização que ele mesmo vem fazendo no imóvel.
“Aqui em Ouro Preto está uma situação horrível de cupins, e temos que matar os insetos, pois as casas são antigas. Ao jogar o produto químico no oratório, o suporte da imagem, também de madeira, virou, e a santa caiu. Foi isso que aconteceu”, afirma o professor, mostrando uma pequena parte quebrada na coroa da imagem e uma parte destruída, na porta do oratório, pelos cupins.
Assim que terminar o serviço de descupinização, Frederico voltará com a imagem para o local. E bastou que ele mostrasse à equipe do Estado de Minas onde fica originalmente a peça sacra para que vizinhos se enchessem de alegria.
“No início ficamos chocados com a imagem de cabeça para baixo, mas sei que ele não fez por mal. Somos amigos”, disse a dona de casa Neuza Marques, de 73, moradora da Rua Bernardo Vasconcelos.
O disse-me-disse sobre a posição da imagem correu de boca em boca e ganhou as redes sociais. “Não gosto de fofoca, ainda mais com vizinhos. As pessoas comentaram, e não procurei desmentir. Deixei que falassem”, ironiza Frederico. A conversou correu solta, e o teor era de que, decepcionado com a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro à reeleição, o professor teria ‘castigado’ a santa.
“Disseram até que era Santo Antônio, e aviso que não estou com intenção de me casar de novo”, acrescentou, com bom humor, o professor aposentado do Instituto Federal Minas Gerais (IFMG).
A referência ao santo casamenteiro decorre das histórias, no interior mineiro, de que, caso um pedido de matrimônio não seja atendido por Santo Antônio, ele será colocado de cabeça para baixo, ficará amarrado um tempo ou irá para a panela, cozido no feijão. Reza a lenda que seria esse, em épocas remotas, um ato de vingança.