Em entrevista ao ‘Roda Viva’, presidente do Banco Central defende que meta “não é um instrumento de política monetária”
postado em 14/02/2023 00:25
O presidente do Banco Central, Rodrigo Campos Neto, acredita que uma mudança na meta de inflação causaria “perda de flexibilidade” neste momento. Em entrevista ao programa Roda Viva, nesta segunda (13/2), ele garantiu que isso não está sendo estudado. “Não entendemos que a meta é um instrumento de política monetária. Existem sempre, obviamente, aprimoramentos a se fazer”, garantiu.
Sobre a impossibilidade de cumprimento da meta, ele comparou ao cenário do país em dezembro do ano passado. “O nosso cenário básico era o cumprimento da meta, com uma curva de juros que já incorporava corte a partir de junho”, comparou.
Atualmente, a meta para 2023 é 3,25% e de 3% para 2024, com 1,5% de tolerância para cima ou para baixo, como definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelos ministros da Fazenda e do Orçamento e presidente do BC. Em 2022, a inflação foi de 5,79%.
“Nossa opinião, hoje, é que não exista ganho de credibilidade simplesmente se aumentar a meta. Porque, no final das contas, você vai ter uma expectativa de inflação que, não só acompanha a meta nova, como vai ganhar um prêmio maior ainda então ao invés de ganhar flexibilidade, você vai perder”, ponderou.
Para Campos Neto, existe um grande esforço do governo na questão fiscal e que reformas, como o novo arcabouço fiscal e a tributária, podem ser centrais para retomar as projeções de dezembro passado.
“A agenda de reformas ajuda muito, acho que podemos tranquilamente voltar a ter o cenário de dezembro em breve, mas depende de vários fatores técnicos, analisados de momento a momento”, opinou o presidente do BC, que disse, inclusive, que Simone Tebet, do Orçamento, estaria “empolgada” em avançar na reforma tributária.
Taxa de Juros
O chefe do BC justificou a manutenção da taxa de juros em 13,75% ao ano em fatores “estruturais e crônicos”.
“Em relação ao fiscal, o que observamos nos últimos muitos anos é uma trajetória de gastos difícil de ser interrompida. Se você olhar a trajetória e imaginar uma linha de tendência de alta, que é a média, e imaginar todas as vezes que teve um corte que foi abaixo da média, várias vezes esse corte não é sustentável”, explicou Campos Neto, citando como exemplo cortes no funcionalismo público.
“Tivemos vários cortes que voltaram. Por exemplo, um ajuste muito baseado no corte de funcionalismo, depois ele volta. Também não acho razoável que o governo chegue e faça um mega ajuste de despesa que nunca foi feita”, observou.