Quem busca atendimento médico para os filhos na rede pública de saúde do DF enfrenta demora e falta de profissionais. Secretaria afirma que está ocorrendo uma maior incidência de problemas respiratórios antes da época prevista
No HMIB, pais chegaram a esperar seis horas por atendimento – (crédito: Ed Alves)
Os pais que estão indo às emergências pediátricas do Distrito Federal em busca de atendimento para os filhos reclamam da falta de médicos e da demora. A Secretaria de Saúde argumenta que a demanda está maior que a esperada para março. Os problemas respiratórios, mais comuns com o frio e a seca, chegaram mais cedo este ano. Segundo ela, isolamento do período da covid-19 fez com que crianças ficassem menos resistentes a vírus.
O Correio percorreu hospitais da rede pública e constatou que o problema acontece em várias unidades. “É revoltante. Ele está com febre de mais de 39ºC, chorando de dor e sem atendimento. Dizem que eles só atendem quem está com a pulseira vermelha”, relatou Livia Ribeiro, 36 anos, mãe de Bernardo, de 5 meses, que aguardava no Hospital Materno Infantil de Brasilia (Hmib). Lívia chegou com o filho às 3h e até as 9h não tinha nenhuma orientação. “Eles falam que tem médico, mas não tem lugar para internação. Mas quem diz que todo caso é de internação? Às vezes, é necessário só uma medicação, um exame. Eles não querem fazer o mínimo”, protestou.
Alessandro Santos, pai de Levi, de um ano e meio, chegou às 23h de domingo ao Hmib e conseguiu atendimento apenas às 4 da manhã de ontem. “Eu estive aqui na sexta, cheguei por volta de 1h da manhã, e meu filho foi o último a ser atendido. Depois disso, eles relataram que os atendimentos só voltariam às 7h”, afirmou
“Para mim, isso é uma operação tartaruga, porque, de madrugada, eles não atendem ninguém”, comentou o pai de uma criança, que preferiu não se identificar. Outra mãe disse que chegou ao hospital por volta das 6h, mas os médicos a orientaram a esperar. “Minha filha estava com febre, dei um remédio em casa por volta das 4h e vim da Cidade Ocidental para a Asa Sul para receber atendimento, mas o pessoal disse para esperar dar o efeito do medicamento”, relatou uma mãe à reportagem, por volta das 10h.
Por causa da alimentação por sonda, Claudivania Marques precisa levar a filha, Ingrid Vitória, de um ano e três meses, com frequência ao Hmib. Para a mãe de Ingrid, o problema é o descaso dos médicos com os pacientes. “Não é falta de médico, eles que não querem atender”, conta Claudivania.
Ceilândia
No Hospital Regional da Ceilândia (HRC) a queixa era de falta de pediatras. “A gente chega aqui e não tem médico. Nos indicam para outro hospital e, quando chegamos lá, nos mandam de volta para cá. Dizem que temos que procurar o hospital mais perto de casa”, conta Nayra Kássia Rodrigues, 25, mãe de Emilly Luara, 3. Ela foi ao HRC por volta das 8h, quando Emilly teve uma crise de bronquite asmática. Quado chegou, pediram que ela se dirigisse aos hospitais de Brazlândia ou Taguatinga. “Fui e me mandaram de volta para Ceilândia. Perdi minha vez na fila e estou esperando, sem saber que horas minha filha vai ser atendida”, revelou ao Correio, por volta de 12h.
Para quem depende do hospital público, a situação é corriqueira, conta Pedro Amaral Oliveira, 33, pai de Pedro Lorenzo, de 8 meses. O filho dele estava vomitando, suando, com respiração ruim e uma febre que oscilava. “A gente chegou e eles só sabem responder que não está tendo médico. Não conseguimos procurar outro hospital, porque se a gente sair daqui , perde a vez”, lamentou o pai de Pedro.
O que diz a secretaria
A secretária de saúde do DF, Lucilene Florêncio, informou ao Correio que o aumento da incidência do vírus sincicial respiratório chegou mais cedo este ano na capital e fez com que a procura por pediatras nos hospitais da rede pública do DF subisse repentinamente. O vírus causa infecções nas vias respiratórias e pulmões, especialmente em recém-nascidos e crianças pequenas. Lucilene explicou que essa antecipação do período em que o vírus normalmente se espalha é consequência da pandemia da covid-19. O motivo é que grande parte das crianças ficou em casa e sem contato com uma gama de vírus, o que afetou a imunidade delas diante das doenças respiratórias e gripais.
De acordo com Lucilene, a falta de profissionais tem sido a maior dificuldade enfrentada. Por isso, o planejamento da secretaria para a época de frio e seca teve de ser antecipado. Uma das medidas é a contratação de profissionais que fizeram concurso público. “O ultimo dia para que os concursados tomem posse será 9 de março. Nós chamamos 124 anestesiologistas e apenas 15 tomaram posse. Nós chamamos 32 pediatras e, até agora, apenas oito foram empossados. Então, se soma uma maior demanda no SUS, com o baixo número de profissionais. A entrada de médicos não está sendo na mesma velocidade e na mesma quantidade do número de pacientes. Estamos buscando outras formas para trazer esses profissionais e para que eles queiram estar no serviço público”, explicou em entrevista ao Correio.
A pasta espera que as novas contratações desafoguem o Hospital de Ceilândia. No HMIB, foram abertos 14 novos leitos de enfermaria e mais cinco leitos de UTI pediátrica. Além disso, nesta segunda-feira (6/3), foram inaugurados cinco leitos de UTI no Hospital da Criança de Brasília (HCB) e liberados quatro leitos de enfermaria no Hospital da Região Leste (Paranoá).