Se o ex-presidente Jair Bolsonaro será candidato daqui a três anos e sete meses, é uma outra história. Há processos em andamento na Justiça Eleitoral que podem culminar em inelegibilidade, bem como a entrada de novos personagens na cena política
Com o primeiro trimestre de 2023 chegando ao fim hoje, o retorno de Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil, depois de uma temporada de 90 dias nos Estados Unidos, marca o início de uma nova fase na oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Tudo indica que o ex-presidente vai apostar pesado no aumento da polarização. E sabemos que, a reboque, vem a radicalização.
O que ocorreu nesta semana no Congresso é um bom exemplo. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara protagonizou momentos característicos do mais baixo nível da política: o dos ataques pessoais. Cenas que não engrandecem em nada o debate e não resolvem os problemas mais urgentes da população. Os protagonistas são os mesmos de sempre: Nikolas Ferreira (PL-MG), André Janones (Avante-MG) e Alberto Fraga (PL-DF). Avalio que um chiste bem feito é uma marca da política, não a agressão gratuita ou ameaças. Há uma diferença enorme.
Em relação a Bolsonaro, acredito que terá um papel muito maior de contraponto a Lula do que ser um líder nato da oposição. Construir, unir ou liderar aliados nunca foi o seu ponto forte. Um bom exemplo é tentativa frustrada de fundar o próprio partido, o Aliança Brasil, que naufragou no auge do mandato presidencial. A iniciativa recolheu pouco mais de um terço das assinaturas necessárias para que processo de criação tivesse continuidade.
Bolsonaro, por sua vez, é popular. É muito forte nas redes sociais. Os milhões de seguidores garantem visibilidade e repercussão a tudo o que fala. Vídeos se espalham rapidamente pelo WhatsApp e, principalmente, o Telegram — o aplicativo está voltando, sim, a ser um dos redutos bolsonaristas. É evidente que os atos extremistas de 8 de janeiro e o episódio das joias chamuscaram a imagem do ex-presidente, mas não há dúvidas de que mantém um nicho importante do eleitorado. Uma prova disso são as imagens do retorno ontem ao Brasil. Foram campeãs de audiência nas redes sociais.
Se o ex-presidente será candidato daqui a três anos e sete meses, é uma outra história. Há processos em andamento na Justiça Eleitoral que podem culminar em inelegibilidade, bem como a entrada de novos personagens na cena política. Tenho certeza, no entanto, que Bolsonaro vai fazer de tudo para desgastar a imagem e o governo de Lula. Com as armas que ele dispõe.
P.S.: há 59 anos, tinha início o golpe militar que culminou com os anos de chumbo da ditadura militar. É uma data que merece ser lembrada e esquecida. Jamais comemorada. O passado não se apaga, mas serve de lição.